sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Triste fim de Policarpo Quaresma

Sobre o autor
 
Afonso Henriques de Lima Barreto (Rio de Janeiro13 de maio de 1881 - Rio de Janeiro, 1 de novembro de 1922), melhor conhecido como Lima Barreto, foi umjornalista e um dos mais importantes escritores libertários[1] brasileiros.
Era filho de João Henriques de Lima Barreto (negro nascido escravo) e de Amália Augusta (filha de escrava agregada da família Pereira Carvalho). O seu pai foi tipógrafo. Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico, que imprimia o periódico "A Semana Ilustrada". A sua mãe foi educada com esmero, sendo professora da 1ª à 4ª séries. Ela faleceu quando ele tinha apenas 6 anos e João Henriques trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal. João Henriques era monarquista, ligado aovisconde de Ouro Preto, padrinho do futuro escritor. Talvez as lembranças saudosistas do fim do período imperial no Brasil, bem como as remotas lembranças da Abolição da Escravatura na infância tenham vindo a exercer influência sobre a visão crítica de Lima Barreto sobre o regime republicano.
 Personagens
 
POLICARPO QUARESMA – o protagonista, cuja principal característica é o nacionalismo exacerbado. Nas palavras do autor, “um homem pequeno, magro, que usava pincenez, olhava sempre baixo, mas, quando fitava alguém ou alguma cousa, os seus olhos tomavam, por detrás das lentes, um forte brilho de penetração, e era como se ele quisesse ir à alma da pessoa”. Policarpo vestia-se sempre de fraque, “e era raro que não se cobrisse com uma cartola de abas curtas e muito alta, feita segundo um figurino antigo”. 
ADELAIDE – mulher bonita, mas de temperamento apático. Irmã de Policarpo, tem enorme apreço por ele. 
VICENTE COLEONI – italiano, grande amigo do protagonista, com quem tinha uma dívida de gratidão: Policarpo lhe emprestara dinheiro uma vez, tirando-o de grande dificuldade.
OLGA – filha de Vicente Coleoni, afilhada de Policarpo, vivia com o pai num palacete em Real Grandeza.

ANASTÁCIO
 – empregado fiel que se muda, com Adelaide e Policarpo, para o sítio Sossego.

RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS
 – violonista popular, outro grande amigo de Policarpo.

GENERAL ALBERNAZ
 – general aposentado, nunca participou de nenhuma guerra. Tem cinco filhas: Quinota, Zizi, Lalá, Vivi e Ismênia. 
CONTRA-ALMIRANTE CALDAS – grande amigo do general Albernaz, com quem partilha glórias inventadas. Nunca comandou navio nenhum, a única embarcação que lhe foi designada não existia.

DONA MARICOTA – mulher de Albernaz, figura altiva e opulenta. 

ARMANDO BORGES – médico que se casa com Olga, corrupto e ambicioso, é desprezado pela esposa.

FELIZARDO E CANDEEIRO – empregados do sítio Sossego. 

TENENTE ANTONIO DUTRA – homem gordo e guloso, um escrivão cheio de ambições políticas, usa a imprensa da cidade de Curuzu para atacar Policarpo.


DOUTOR CAMPOS – médico que abandonara a profissão para se tornar político. Obtém o cargo de presidente da Câmara de Curuzu. Tenta corromper Policarpo e em seguida se torna seu inimigo porque esse se recusa a tomar parte na armação.
 Tempo
 
Trata-se de um tempo cronológico.
Retrata  datas e convenções próprias para estabelecer o tempo.
O autor ainda  faz referências ao relógio, horas exatas em toda a obra.
 Espaço
 
A história ocorre durante o governo de Floriano Peixoto, em 1894, na cidade do Rio de Janeiro. O personagem principal, quando não estava trabalhando em casa, muda-se para uma fazendo no Curuzu.
 Enredo
 
A questão da identidade nacional brasileira é difícil. Se, na Europa, esse tema se construiu sobre tradições populares ancestrais, no Brasil, por falta delas, ele foi, inicialmente, lapidado em cima de um passado inventado pelos escritores do Romantismo, de modo idealizado.
A conjunção harmoniosa de índios, negros e europeus, a sobreposição de valores, a construção do herói modelar, o triunfo do bem são, na realidade, a repetição ingênua dessa identidade forjada e, portanto, falhada. É nesse ponto que começa o Triste Fim de Policarpo Quaresma de Lima Barreto, um livro que revela não só o engodo do projeto criado pelos escritores românticos, mas também a dificuldade de articulação de um conceito de identidade nacional no país.
Policarpo Quaresma é, antes de tudo, nacionalista. Ama o Brasil acima de si próprio e de si próprio abriu mão para viver em prol do engrandecimento da Pátria.

Estudou com afinco o país, acreditando piamente nos livros de sua biblioteca, que o narrador refere como romântica e, cotidianamente, chega à repartição pública onde trabalha com uma excelência da geografia brasileira, comportamento ironizado pelos companheiros de trabalho. Longe da realidade, começa a construir projetos de brasilidade.
O primeiro, baseado em suas leituras, é montado sobre a cultura do índio, elemento usado no Romantismo como símbolo de identidade nacional, já que aqui estava ainda antes de o português chegar. Foi seu primeiro erro. Nem seus amigos compreenderam sua tentativa: Lima Barreto marca o estranhamento da conjunção cultural e ética proposta pelos escritores românticos, quando confrontada com a realidade.
 
O hospício é a natural conseqüência. Então Lima Barreto desiste de aproximar identidade nacional de identidade cultural e étnica, partindo para o engrandecimento da Pátria por meio de um projeto agrícola científico, especulado pela realidade: saúvas, tiriricas, pragas, dificuldade de comercialização, oportunismo político, questões fundiárias... O segundo projeto queda frustrado também.
Policarpo não desiste. Seu terceiro plano é na esfera política, o centro das decisões: resolve, além de entregar a Floriano Peixoto um memorial cujo tema é a salvação nacional, engajar-se ao lado da ordem republicana contra a Revolta da Armada, que a ameaçava. Não via ele que a República amordaçava o povo com a morte quando esse se rebelava contra a marginalização de que era vítima.
No entanto, essa realidade era tão forte que, por maior que fosse o sonho de Policarpo, ela terminaria por vir à tona: a ordem republicana vitoriosa, indiscriminadamente, pune a todos que ousam discordar dela e, de tão arbitrária, alcançou Policarpo, que a defendia.

Seu terceiro projeto foi atropelado pela realidade. Pobre Policarpo Quixote Quaresma! Na sua trajetória, foi obrigado a ver as feridas e as mazelas brasileiras, seu conceito de Pátria morreu com ele. E, agora, o que é Nacionalismo?
Lima Barreto, simbolicamente, aponta as engrenagens da História: Pátria, ao fim e ao cabo, é uma construção, não um sonho; é um processo de enfrentamento da realidade, não de idealismo, Amar a Pátria significa participar da criação de todos, para todos - Policarpo Quaresma está vivo dentro dos que querem um país que abrigue todos os brasileiros. 
 Foco narrativo
 Narrador em 3ª pessoa